segunda-feira, 2 de maio de 2011

É impossível não esboçar um sorriso de orgulho em ser uma Lopes Ramos!

"Espero que me perdoem a frieza de chorar alguém que nunca conheci. Imagino o sofrimento de quem o conhece e ama, não estando ainda preparada para falar e sentir no pretérito.
Eu gostaria de falar pela multidão que o conheceu só pelo que escreveu e fez. Fomos muito prejudicados pela morte do David Lopes Ramos. Precisamos dele. E continuaremos a precisar dele até chegar alguém que o substitua como guia gastronómico e mestre da boa vida. Que será nunca e ninguém.
O nosso luto é um luto oportunista. A morte do David estragou-nos a vida, materialmente. E idealmente. E até emocionalmente, por ser impossível não acreditar na boa alma que tinha. Coisa que nos foi dita durante toda a vida dele e, comoventemente, agora que morreu, foi apenas repetida. O David tinha uma inteligência aberta, uma honestidade generosa perante o velho e o novo, o urbano e o regional, o estrangeiro e o português.
Há pessoas que fazem mesmo falta. Deixam um buraco por toda a parte. Estávamos a contar com elas. Não podíamos prescindir nem um bocadinho delas, no sentido mais egoísta e viciado, mas também afectuoso e – porque não dizê-lo – clubístico e filial. Morreu um dos nossos.
O facto de não nos pertencer não nos tira o direito – e a birra, zangada e traída – de chorar e chamar por ele.
À família Lopes Ramos: desculpem este desabafo. Obrigado por terem feito dele um homem feliz, que partilhou essa felicidade connosco, amigos dele. Sem o conhecermos sequer."


por, Miguel Esteves Cardoso
*texto publicado na edição de 01 de Maio de 2011 do Público

*

Sem comentários:

Enviar um comentário