segunda-feira, 21 de março de 2011

Eu TENHO, e o que tem de ser tem muita força!

Temos que ser fortes, eu TENHO que ser forte. Nunca fui boa a lidar com a morte, a perda e a angústia de ver pessoas queridas a simplesmente deixarem de estar comigo. Sempre tive consciência que a perda, o luto, a morte, a dor e o sofrimento me deixam completamente desfeita e com a cabeça feita num 8. Sempre me questionei como é possível que existam pessoas que lidam diariamente com a morte e a dor - os médicos, enfermeiros, auxiliares - como conseguem viver lado a lado com uma das coisas que mais temo e que mais angústia me dá.

Sempre soube que ser médica não era de todo o meu forte, lidar com o corpo humano, essa entidade que faz o que quer connosco, que nos consome sem sequer avisar, que nos maltrata e nos deixa cicatrizes fundas e difíceis de esquecer, não era de todo aquilo que mais gostava de fazer (e além de um sem fim de aspectos), o ter de lidar com a fugacidade da vida, com a inevitabilidade da morte e com a impotência com que muitas vezes se deparam, não era para mim.

Eu tenho que ACREDITAR, que é possível, que há sempre uma luz ao fundo do túnel e que realmente a esperança, essa é sempre, mas sempre a última a morrer.

Por agora há diagnósticos, resultados, mais exames, mais hospital, mais enfermarias deprimentes, mais gente que pouco parece gente (incrível como o corpo humano consegue tomar conta de nós, quando achamos que somos nós que comandamos esta máquina - amarga inocência).

Aqui, e só para ti, Tio, há tudo o resto: sorrisos, abraços, companhia, presença, calor e alegria, porque há que acreditar que a vida tem tanto de injusta e cruel como tem de bela e maravilhosa, e eu sei, e eu TENHO que acreditar que um dia tudo isto será mais uma das tuas histórias, contadas à volta de uma mesa, cheia de boa gente, copos, vinho, família e a tão característica tua forma de falar, apaixonante, vibrante e terna com que sempre me habituaste.

Um dia, vais voltar aqui a Pardilhó e sentado no alpendre, com as pernas ao sol como sempre o fazias, vais olhar para trás e ver como tudo passou.
Porque eu TENHO que acreditar!

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