terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Das perdas.

Quando alguém morre, temos sempre aquele sentimento de pena. Quando alguém morre e conhecemos, ficamos sempre uns minutinhos a pensar na pessoa e a relembrar pequenos momentos. Quando alguém morre cedo demais é sempre injusto, mas quando se morre com 10 anos mais injusto é.

O D. faleceu. O D. nunca foi um dos meus meninos. Nunca trabalhei com ele directamente. Nunca lhe disse mais que um: "Bom dia!" (daqueles carregado de boa disposição e sorrisos). Nunca o tive sentado ao meu lado, mas relembro bem o sorriso rasgado que tinha logo pela manhã, os caracolinhos dourados, os olhinhos azuis água, e o amor e ternura que aquela mãe tinha por ele.

O D. tinha um tumor cerebral, que lhe trouxe comprometimentos a nível físico e mental, graves. Deixou de andar, deixou de ouvir. Tinha 10 anos. 10 ANOS! Nestas alturas sinto uma raiva gigante a apoderar-se de mim, sinto que se Deus existe deve andar a dormir na forma, que se há injustiças neste mundo, esta é uma delas.

O D. sentiu-se mal, não aguentou e a caminho do hospital e morreu de paragem respiratória. Tinha 10 anos. Era uma criança a quem o mundo já tinha sido tão cruel, e assim, sem sequer avisar lhe cortou as asas (porque sei, alguns estarão a pensar que foi melhor assim, que iria ficar com lesões graves, que não iria ser feliz..acreditem, trabalho com eles todos os dias, acreditem, ELES VOAM!).

E assim, mais uma vez, sou deparada com uma realidade horrível. Com uma dor que só quem trabalha nesta área consegue perceber. Com um sentimento de impotência tão grande...a sentir-me uma formiguinha ao lado destes lutadores com quem trabalho todos os dias.

De facto, não sou nada ao lado deles.

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