Burras ad eternum?
"Hoje dei por mim a
dar conselhos amorosos a uma senhora com idade para ser minha mãe. O
namorado não lhe liga, não a assume, ora aparece, ora desaparece, é "um
egoísta", mas depois... depois ela gosta dele, e não se consegue
desligar, e vive com uma camada de nervos em cima mas também não sabe
como pôr fim àquilo. É aquela coisa do "nem contigo, nem sem ti", sendo
que ela própria já percebeu que leva uma existência mais normal e
equilibrada nas fases em que ele desaparece e fica meses sem dar à
costa. Andam nisto há anos e anos, e assim vão levando a vida. À medida
que ela me ia contando a história eu só lhe perguntava se ela se estava a
ouvir a ela mesma. E como é que depois da soma de todos os factores ela
não lhe dava um chuto de vez. E ela dizia que eu tinha razão, claro,
mas isto do coração é uma merda e nós, mulheres, temos uma capacidade
para a burrice absolutamente fora do comum. Eu estava a ouvir aquela
senhora e parecia que me estava a ouvir a mim e às minhas amigas aos 18
anos. E aos 22. E aos 26. E aos 30. Os mesmos dramas, as mesmas
desculpas. Achei que a maturidade nos fazia abrir os olhos. E achei que
uma senhora de 50 anos já não ia nestas cantigas. Afinal vai. Afinal é
possível continuar a fazer os mesmos disparates e a desculpar merdas
absolutamente inadmissíveis. Passo a vida a dizer que gostava de voltar a
ter 20 anos e saber o que sei hoje, mas será que mesmo sabendo o que
sei hoje teria feito alguma coisa diferente? Teria sido menos parva
nestas coisas do amor? Teria dado menos tempo de antena a quem não
merecia nenhum? Vai-se a ver e não! Uma pessoa acha que já passou por
tudo, que já sabe tudo e que nunca na vida irá repetir os mesmos erros,
mas depois bate com os olhos numa senhora de 50 anos, apaixonada por um
traste e a sofrer como uma adolescente, e percebe que afinal não sabemos
é coisa nenhuma. Quer dizer, saber até sabemos, mas depois baixa em nós
aquela amnésia típica e é ver-nos novamente a dar cabeçadas. Então e a
sapiência que nos é prometida com a idade? Cadê? Vamos ser burras pela
eternidade? Vamos sempre preferir os anormais? Nunca vamos conseguir
perceber quando é que um homem se está a cagar para nós? Vamos sempre
arranjar desculpas aos meninos? Vamos ter sempre as palavras certas para
dizer às outras mas fingirmo-nos de surdas quando nos toca a nós? É que
eu sabia exactamente o que dizer àquela senhora, e fui-me embora a
pensar "mas como raio é que ela não percebe que está na hora de lhe dar
para trás?". Mas depois também pensei "cala-te, pá, porque se fosses tu
naquela situação se calhar fazias o mesmo, e nem valia a pena alguém
dizer-te o contrário". Se por um lado me irrita que a idade não nos
traga a clarividência necessária a algumas situações, por outro acho
absolutamente encantador que as pessoas não percam a capacidade de se
apaixonarem e de viverem as coisas com tanta intensidade e emoção,
independentemente da idade. Ainda assim, acho que aos 50 anos já toda a
gente devia e merecia ter encontrado a sua cara metade e viver com amor e
sem grandes cowboyadas emocionais. Mas parece que não..."
by, A Pipoca Mais Doce
Eu não podia dizer melhor...
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