O que elas sabem sobre nós
"Sabem que olhamos para as curvas dos corpos delas nos vestidos e
imaginamos o que estará por baixo. Que as vamos descascando: camada a
camada. Sonhando com a cor da lingerie que trazem no corpo. Se é
vermelha, ou preta. Perdemos minutos a imaginar como será que o corpo se
aguenta em toda aquela camisa de forças. Será que as ancas não gritam?
Será que os seios não esperneiam? Assumimos que sim. Elas sabem disso.
Quando as deixamos passar à nossa frente, ou lhes damos um jeitinho no
meio da multidão, elas sabem que somos cavalheiros da nossa causa, à
nossa maneira. Só lhes queremos sentir o perfume, ou procurar um
eventual toque no corpo. Um motivo para meter conversa, ou para as
apreciar noutros ângulos. Elas sabem disso. Sabem que conquistamos as
amigas para as conquistar. Ninguém vence batalhas sozinho. Elas sabem
disso. Elas sabem quem são os bons e quem são os maus. (Acreditem!)
Apenas optam por escolher os maus mais vezes. Só se acerta uma vez na
vida. E elas gostam de gastar as fichas todas de uma vez. Sabem quando
temos alguém. Desconfiam. Desdobram-se em mil. Procuram respostas. Fazem
inquéritos. Até que no fim, quando têm a certeza, nos martirizam. Elas
sabem quando nos têm na mão. Fazem-se de despercebidas. Fazem-nos julgar
invencíveis, os reis do mundo, os sultões dos bares. No entanto, elas
sabem e deixam-nos passar por parvos. Elas sabem quando olhamos para
outra, enquanto estamos na esplanada a beber café. Apanham-nos no nosso
jeito atabalhoado de disfarçar. No auge do excesso de testosterona que
nos torna em seres desajeitados. Sabem que fantasiamos com a vizinha, e
imaginam que nós a imaginamos connosco no banho, na mesa da cozinha, ou
no elevador. Elas sabem, e fazem-nos sofrer por isso: uma dor de cabeça
aqui, um dia cansativo ali… Ou então, obrigam-nos a suar a vizinha para
fora do nosso corpo. Obrigam-nos a entender o que temos em casa - que
vale mais que a vizinha, que a rapariga do café ou que a colega de
trabalho. Elas sabem como nos manipular. Sim, elas sabem. Elas sabem
como nos domesticar. Mas também sabem como nos mimar. Sabem quando
amuamos. Quando estamos a chocar uma gripe. Ou quando só tivemos mais um
dia mau. Sabem quando desesperamos por um beijo. Quando procuramos um
pouco de afecto. Elas sabem lidar com os nossos amigos. Sabem como os
conquistar. Sabem qual é que era bom para aquela amiga que só tem olho
para trastes. Sabem nos fazer felizes. Sabem como nos deixar à beira de
um ataque de nervos. Sabem que botões apertar para despertar um ataque
de ciúmes. Sabem como nos obrigar a fazer se sentir desejadas. Elas
sabem tudo. Sabem até que eu não fiz por mal quando comecei o texto ao
imaginar as curvas de cada uma delas a desfilar em lingerie, no meu
quarto, ou em qualquer outro lugar. O que elas não sabem é que nós
fazemos tudo para acertar. E damos tudo para nunca errar (embora errar
seja humano)".
by, Pedro Rodrigues
Sim, nós sabemos!
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